Tecnologia na escola,
problema ou solução?
Diversas dúvidas quanto ao uso das tecnologias na escola vêm sendo
alimentadas a cada ano. Qual a finalidade? Por que utilizar? Qual a
efetividade? Quais resultados queremos atingir? Como utilizar? Quem deve estar
envolvido com esse processo?
De fato, o que se tem presenciado na maioria das escolas é uma insatisfação
quanto aos benefícios dessa prática. Gastou-se muito e efetivamente os
resultados obtidos ficaram aquém do desejável. E agora? Sabemos que não se pode
simplesmente ignorar as tecnologias, pois uma coisa é fato: elas estão
presentes em todas as áreas e se expandem numa velocidade cada vez maior.
A nova Lei de Diretrizes e Bases (LDB) da educação nacional propõe uma
prática educacional adequada à realidade do mundo, ao mercado de trabalho e à
integração do conhecimento. Podemos entender, então, que a utilização efetiva
das tecnologias da informação e comunicação na escola é uma condição essencial
para inserção mais completa do cidadão nesta sociedade de base tecnológica. É
importante diminuir a enorme distância que existe entre o que o mercado de
trabalho pede e as habilidades e competências do profissional que está se
formando. O mercado precisa de pessoas que pesquisem, que questionem, que
saibam realizar suas atividades de forma autônoma, que tenham iniciativa, que
sejam capazes de resolver problemas. A utilização das tecnologias, no mundo
atual, está fortemente inserida em todas essas exigências de mercado. Além
disso, nunca houve tanta informação e conhecimento disponíveis num espaço de
tempo tão curto.
Muito já foi discutido sobre o uso das tecnologias e do computador na
Educação. Com base em todas as discussões e experiências realizadas,
confirmou-se que tais recursos devem constituir-se em ferramentas para apoio e
desenvolvimento da aprendizagem acadêmica. Ou seja, o objetivo não é fazer com
que os alunos aprendam informática simplesmente, e sim que aprendam melhor
português, matemática e as demais disciplinas a partir do uso do computador.
Mas, como?
A nosso favor, temos uma grande vantagem que deve ser bem explorada: nossos
alunos têm disposição e interesse por projetos e atividades que utilizem
recursos tecnológicos. O ato de gostar eqüivale ao ato de querer conhecer, ou
seja, temos mais chance de explorar a aprendizagem do aluno quando propomos
atividades que têm significado para ele.
Ao desenvolver uma proposta pedagógica eficiente para a utilização das
tecnologias na escola, tão importante quanto a riqueza e o encanto dos recursos
oferecidos em determinado educativo multimídia ou site educacional, é a
elaboração de um planejamento adequado para a utilização dos recursos
computacionais e para a produção de resultados. Por mais rico em animações,
vídeos e conteúdo que um aplicativo seja, ele não produzirá resultado algum se
não for trabalhado de forma a contribuir para a aprendizagem do aluno. O
problema é que o professor parece dispor de pouco tempo para planejar, estudar
e avaliar seu próprio trabalho. Segundo os japoneses, nós devemos gastar 80% do
nosso tempo planejando e 20% executando; infelizmente em nossa cultura
realizamos uma prática contrária a essa.
Conciliando o útil ao agradável, uma forma efetiva de elaborar um
planejamento adequado para o uso das tecnologias pode ser encontrada no
desenvolvimento de projetos de investigação e empreendimento; trata-se de uma
oportunidade de se trabalhar, na prática, a teoria do
"construcionismo" ou do "aprender fazendo", do Dr. Seymour
Papert. Ora, se os alunos gostam de tecnologia e se sabemos que o trabalho com
projetos é uma prática eficaz para estimular o desenvolvimento de habilidades e
aplicar o sentido significativo de aprendizagem -- ao invés da simples
transmissão de conteúdos -, temos então uma excelente oportunidade de utilizar
a informática contextualizada ao ensino.
Num projeto que viabilize o uso das tecnologias, podemos trabalhar a
problematização, o levantamento de hipóteses e a investigação de um determinado
assunto através da utilização de educativos multimídia e do desenvolvimento de
pesquisas na Internet, enquanto a produção do empreendimento, resultado do
projeto, pode ser realizada a partir dos softwares de autoria e de
produtividade. Podemos citar, como exemplos de empreendimentos, a montagem de
um livro de parlendas, a produção de um CD-ROM sobre educação ambiental, a
elaboração de uma campanha sobre dengue em quadrinhos ou mesmo o
desenvolvimento de um site sobre o descobrimento do Brasil.
Outra questão tão importante quanto a geração dos resultados a partir da
utilização das tecnologias é a divulgação dos mesmos. Trata-se da grande
oportunidade de dar visibilidade ao trabalho de informática realizado na escola
e de trabalhar a motivação de alunos e professores.
Entramos agora na grande tônica da utilização efetiva das tecnologias na
escola. Se precisamos planejar e contextualizar a aprendizagem de determinado
conteúdo, o personagem principal para ser o gestor deste processo deve ser o
professor... Mas ele está preparado para este desafio?
Diferente dos alunos, os educadores de hoje não nasceram nem se formaram
numa realidade de tamanha evolução da tecnologia e dos processos de
interatividade. Segundo Barbero, "os professores precisam ficar atentos ao
grande hiato que está se formando entre eles e os alunos, pois continuam
transmitindo conhecimento linearmente, separando emissor do receptor".
Entretanto, se o professor parece ser o grande problema, ele é antes de tudo
a grande solução. Se queremos viabilizar uma utilização pedagógica da
informática, é fundamental desenvolver uma parceria com o professor.
O "aculturamento" tecnológico do professor deve partir
fundamentalmente da vontade própria de se atualizar (só se faz bem feito aquilo
que se quer fazer). Sobretudo, é importante saber que capacitar o professor
para usar o computador não basta. É preciso de fato orientá-lo para usar o
computador como ferramenta pedagógica (ensinar a preparar aulas, desenvolver
projetos, elaborar planejamentos, criar ambientes colaborativos de
aprendizagem, etc).
Existe ainda a questão da resistência. Alguns professores ainda acreditam
que as tecnologias podem "roubar" seus postos de trabalho. Na
realidade, quem "rouba" o lugar de um professor não é a tecnologia ou
qualquer outro instrumento, mas, sim, um outro professor mais preparado como
gestor do processo de ensino e aprendizagem, que inclui, entre outras
aplicações, a utilização das tecnologias. Hoje em dia, na área da Educação,
saber utilizar as tecnologias ainda é um diferencial competitivo, mas, em
breve, será apenas um pré-requisito, como já acontece em outras profissões,
como Arquitetura ou Engenharia (o arquiteto que não usa o computador está fora
do mercado pois não é produtivo). É importante que o professor esteja
consciente de que os alunos de hoje que optarem por serem professores no futuro
já terão esse know-how naturalmente. Provavelmente aí esteja o
"timing" da transformação do diferencial em pré-requisito.
Os desafios para realização de um trabalho eficiente em relação ao uso das
tecnologias da informação e comunicação no espaço educacional são grandes, mas
na mesma proporção, a utilização adequada das tecnologias representam uma
oportunidade ímpar de inserir a escola como uma instituição voltada para a
criação de ambientes colaborativos de aprendizagem e, consequentemente, para o
desenvolvimento de habilidades que se tornem competências nos alunos. Em um
mercado competitivo como o Educacional, a escola que desenvolver uma proposta
eficiente e de resultados com o uso das tecnologias, certamente terá um referencial
que fará a diferença.
Alexandre Tavares
Fonte: www.redepitagoras.com.br